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Ana Flavia Cabral Souza Leite

Abertura Terra 2023

Por Ana Flavia Cabral Souza Leite

Foto: Marina Andrade


É hora de aterrarmos sem fronteiras. A temporada Terra é resultado dos muitos frutos que colhemos do encontro das Águas em 2022 e que nos levou a profundos mergulhos em nossa cultura, nos trazendo a noção da terra indivisa, do poder do encontro, da hibridação das culturas nas fronteiras e, portanto, do entendimento de que não há limites para a música como vetor de transformação – ela é capaz de chegar a todos os lugares, através dos tempos, criar portais.


A música avança sobre as fronteiras e se soma nos incontáveis territórios - ancestrais, culturais, sagrados, espirituais - desse Brasil, a nossa pátria, de corpo e alma. São muitas as terras que conectamos e que se fundem em uma imensa comunidade em que compartilhamos os sentimentos que nos despertam como indivíduos singulares na promulgação do coletivo que é a base do protagonismo da Orquestra Sinfônica Brasileira.


Vimos despojados de subjetividades para ler, entender, viver e sentir o outro. É essa imersão que nos permite nos reconstruir e nos rever como seres sociais, promovendo as atualizações necessárias dos códigos vigentes, de forma a permitir um futuro mais democrático, integrativo e consciente. A evolução se sucede na esteira dos entendimentos que, por sua vez, pressupõem reflexão, diálogo e construção em regime de reciprocidade, trocas. Por isso é necessária uma ambiência de equidade, liberdades, limites recíprocos e dignidade. O mínimo necessário precisa equacionar segurança para uma existência digna, mas a vida vai muito além de passar pela Terra: para isso a arte, e ela é para todos, de cima ou de frente para um palco, real ou imaginário, mediado ou não por uma tela. O ponto é que existir com dignidade pressupõe pertencer e ser protagonista da própria vida. Direitos culturais, democraticamente acessados, exercício digno de cidadania.


E, para concretizarmos as ações para nossos ideais, é necessário que nos desapeguemos de barreiras, a fim de construirmos uma comunicação ampla, diversa e abrangente. A coerência e a conformidade da mensagem precisam ter ressonância em nossos atos e vice-versa. Respeitar e valorizar as diferenças é o primeiro passo para a criação de uma comunicação efetiva, plural e transversal. Entre nós diferenças são riquezas e fronteira é lugar de encontro. Somente a música é capaz de atravessar o tempo, promovendo a ponte entre o passado e o futuro, costurando nosso presente e nos levando além. O diálogo entre todos os diferentes é a terra que encontramos para promover mutualidade libertadora e, portanto, evolução. A gente encontra, resolve e avança no sentido de fazer prosperar a desafiadora existência humana na Terra.


Na nossa comunidade medimos o amor em intensidade e o tempo em música. Somos uma comunidade de resistência que se renova constantemente permanecendo há 82 anos, apesar das impermanências e conjunturas desestruturantes de todos os tempos, políticos ou de outra natureza. Queremos entender todas as variáveis, procuramos estar dispostos a tocar, mas também a ouvir e a escutar. Não há música se não ouvimos uns aos outros, ainda que sejamos muito diferentes.


Por isso aqui na OSB cada integrante é um agente de mudança, cumpre um papel transformador e tem a responsabilidade de aprofundar a nossa missão como uma organização voltada a servir a sociedade. Temos a felicidade de contar com empresas comprometidas com esse propósito e, com o suporte das leis de incentivo à cultura, nos permitem contribuir para suas atividades, dando acesso às suas comunidades e favorecendo o aprimoramento da nossa visão de mundo. Aprendemos todos os dias com todos os nossos apoiadores e, em contrapartida, também procuramos agregar às suas jornadas. Assim vamos burilando todas as conexões que se fazem por meio da música, cuidando de cada um que vamos tocando ao longo da trilha de afetos que espalhamos pelo nosso país.


A temporada Terra, por fim, recebe as sementes de 2022 e prepara novos frutos para o futuro, laborando juntos pelo nosso Brasil.

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