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João Carlos Cochlar

A primeira impressão

Como é a sensação de assistir a um concerto pela primeira vez? No último dia 21, estava diante dessa pergunta enquanto conversava com um espectador no intervalo. Ele veio do interior do estado do Rio e assistiu ao seu primeiro concerto. Parecia impressionado. Era como se acabasse de fazer uma descoberta.




É verdade que até mesmo os veteranos de plateias de orquestras se deslumbram com os concertos. O acaso sempre estará presente, ainda que os rituais dos concertos sejam os mesmos. Até os músicos, numa primeira execução da peça da semana, também se surpreendem com uma obra que acabaram de tocar em conjunto.


Assistir a um concerto pela primeira vez é não ter uma experiência prévia como referência. É imaginar as milhões de possibilidades sobre como isso será. Vale para quaisquer das experiências inéditas da vida, como andar de bicicleta, dirigir, viajar de avião, ir ao cinema. Algo que, para os veteranos, torna-se cotidiano.


Aprender cada uma dessas atividades forma uma primeira impressão. Fica na memória ou no inconsciente. E, no caso da orquestra, a primeira impressão ao assisti-la, até por sua vocação de produzir beleza na forma de som, gera impacto intenso. E como cada composição é um mundo, o inesperado sempre permanece.


Primeiras impressões, por serem vagas, antagonizam com a repetição e a convivência. Deparar-se com algo pela primeira vez pode provocar no observador experiência intensa, mas, ainda assim, limitada. É no detalhe, no zelo com cada parte que compõe o todo da orquestra, que se viabiliza a primeira impressão tão poderosa no ouvinte. O impacto de assistir a um concerto, na verdade, é provocado por um grande conjunto de fazeres e saberes. Dentro da ideia de orquestra, som e música, há muitas subdivisões. Aprender sobre elas é ver não só a beleza do todo, mas das partes que a compõem.


Os Concertos para a Juventude talvez sejam o melhor exemplo disso. Cria-se uma plateia de jovens calouros do mundo sinfônico que recebem não apenas uma primeira impressão. Aprendem sobre como a orquestra funciona, como se estrutura e ouvem os timbres de alguns instrumentos. Descobrem que a orquestra se divide em quatro famílias: das cordas, das madeiras, dos metais e das percussões. Têm a oportunidade de ver a beleza de cada parte individualmente. Cada um colaborando para o todo.


Essa divisão, contudo, não ocorre somente com a orquestra, mas também com o seu material de trabalho: o som. Suas propriedades são a altura (ou frequência), a intensidade, a duração e o timbre. Cada nota musical tocada, por cada um dos instrumentos, é fruto de uma escolha. Feita tanto pelo compositor, no momento da criação, como pelo maestro e pelos músicos na hora da execução. É por conta dessas escolhas, somadas sempre ao imprevisível, que uma mesma composição soa diferente a cada execução.


Outro todo que se divide é a própria ideia de música, que contém a melodia, harmonia e ritmo. Melodia é a sucessão de notas que identifica a obra. Nós a entendemos quando, para lembrar o nome de uma peça, nós a cantamos (ou melhor, solfejamos) para nós mesmos. Quando há solista presente, normalmente lhe cabe a melodia na maior parte da execução da peça. A harmonia, por outro lado, é o conjunto de sons que acompanha a melodia, como a roupa que nos veste. E, enfim, o ritmo é a repetição regular do som no tempo. Esse papel é protagonizado normalmente pelos instrumentos percutidos.


Esses são alguns dos muitos exemplos de elementos que compõem o todo. Quanto mais se percebem os detalhes, mais beleza se revela ao ouvinte. Assistir a um concerto pela primeira vez é se encantar com um mundo novo. Conviver com ele e compreender seus detalhes é contemplar uma permanente descoberta.

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